talvez já não exista "nós dois"


- Mas acho que seria bom... a gente junto... outra vez...
- Por qual motivo?
- Porque além do tempo, da amizade e de tudo, sinto muita coisa por ti.
- Tipo? - ela já estava monossilábica, sem saber bem o que poderia ser dito diante do que ele falava.
- Gosto de ti, sinto saudades... tanta coisa!

Assim se desenrolava aquela conversa que demorou tanto tempo para acontecer. Quase dois anos se passaram desde o último contato mais "romântico" por assim dizer. Mas as vontades pareciam não se importar com o tempo e com as novas circunstâncias em que ambos se encontravam. Ambos em novas fases da vida, com grupos de amigos diferentes, em relacionamentos distintos...

Era uma tarde quente, o barulho as vezes a fazia se distanciar da conversa. Calava, lia o que ele havia escrito algumas vezes antes de decidir o que dizer, se algo deveria ser dito ou se acabaria com qualquer encanto expor o que estava pensando. Preferiu arriscar, já havia se angustiado várias vezes por justamente não expor o que sentia, o que pensava e o que achava que deveria ser dito, independente de sua vontade maior fosse de calar, mas era de direito fazer o outro saber o que se passava ali dentro - do pensamento, do coração.

Então, depois de alguns minutos em silêncio, ela se enche de carinho. É tomada de sobressalto pelas lembranças, ainda vívidas na memória, daquele romance conturbado, daquele misto de amizade e... bem, eles não conseguiam definir o que tinham... Tomando cuidado para que não fosse súbita com as palavras, confessa:

- De vez em quando sinto saudades também. O que a gente teve e o que sobrou de tudo que vivemos foi muito bom. Sério... Mas... Sei lá, eu acho que o nosso tempo JUNTOS já passou por nós dois e, como eu disse, as vezes é melhor deixar as coisas como estão. Isso não é uma despedida, porque é o que está parecendo, mas não é... Estou falando dos romances confusos entre nós. Acho que já é tarde para existir um "nós"...


Talita Saldanha

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