Coisas de Infância...


Eu não tive infância com Barbie e Casa de Bonecas pra brincar. Meu pai trabalhava demais e ganhava pouco e esse tipo de brinquedo sempre foi um luxo que não podíamos ter. Mas eu ganhei bonecas baratas com quem fantasiava o mesmo que fantasiaria com uma Barbie de $50,00 paus. Eu tive uma lancheira da Minnie e do Sônic, revistinhas da turma da Mônica e pra mim aquilo já era uma riqueza sem tamanho. A matemática era simples: ou um brinquedo caro, ou comida na mesa, energia, gás e telefone. Fui criada de uma forma que o luxo não me é importante, embora algumas mordomias eu bem que gostaria de ter. Eu queria ter uma casa na árvore que nem a "Punk", um quarto só meu que nem a "Blosson" e queria o Hector Bonilha do "Chaves", mas eu sabia que não podia, então não insistia.

Na minha infância eu não tive muitos amiguinhos, minha mãe era (e ainda é, em menor grau) protetora demais para me deixar na rua com qualquer um. Não lembro, mas em uma das pouquissímas vezes em que fui brincar na calçada minha mãe conta que a filha, também pequena, da vizinha me derrubou e aquilo foi o cúmulo para a Dona V. Nunca mais brinquei na calçada, não até antes dos meus 13 anos. Por esse mesmo motivo, não sei andar de bicicleta, era algo "perigoso demais pra mim".

Como toda e qualquer filha mais velha, tive ciúmes do meu irmão quando nasceu e de toda atenção que foi posta em cima dele. Lembro muito bem de, enquanto minha mãe estava na cozinha, eu, com quatro pequenos anos de idade, balançava ele, recém nascido, na sala e fazia a rede dar voltas e mais voltas no ar; enquanto ele ria pedindo mais daquela montanha russa, minha mãe gritava comigo e me batia rs.

Já quase morri de um choque. Criança não pode ver uma chave e uma tomada por perto. E fica ainda mais perigoso quando sua mãe está lavando a área da casa e você criança está com os pés molhados. Já me queimei com o ferro de passar roupas, quando minha mãe engomava e deixou o ferro de lado para atender à porta. Eu só queria adiantar seu trabalho, mas o ferro quente não entendeu minha intenção e resolveu me castigar e marcar meu braço. Não tenho cicatrizes ou marcas disso, ainda bem.

Como qualquer outra menina, também usei os vestidos, maquiagens, acessórios, sandálias e perfumes da minha mãe quando ela não estava em casa. Lembro bem de lambuzar a cara toda com um batom vermelho e usar um vestido preto, arrastando ele pela casa. Eu ligava na rádio e fingia ser cantora, as vezes fingia reger alguma orquestra o que, nessa época, era o que eu dizia que seria. Que ilusão!

Meus aniversário nunca foram grandes. Em sua grande maioria só estávamos minha mãe, meu pai, meu irmão e eu. E eu amava o dia 12/09 porque ganhava presentes. Lembro de um deles em que minha mãe havia chamado um fotógrafo e meu tio me presenteou com um pacote de caramelos, que eu amava, e que não quis largar. Minhas fotos desse dia ou são segurando o pacote ou toda lambuzada de caramelo.

Tenho sim uma marca, na perna, de uma vez que me queimei, no cano de uma moto na casa da minha avó. Aliás, mesmo odiando sua cidade, era de lá que eu mais gostava - depois do quintal da minha casa, onde brincava o dia inteiro. Lembro das festas de finais de ano em que toda a família - uma penca de tios e primos - se reunia para brincar de amigo secreto. Eu sempre detestava os presentes que ganhava, a não ser que eles viessem da minha avó ou de meus pais. Lembro muito bem dessas festas em que o quintal parecia gigante e eu cansava só de pensar em atravessá-lo. Hoje acho ele tão minúsculo que nem sei qual o tamanho do quintal enooorme que eu achava que a casa que eu morava tinha.

Eu era muito cheia de "não-me-toques" pra comida. Minhã vó sempre matava uma galinha pra fazer o almoço e eu detestava, então ela ia na bodega da casa da vizinha e comprava mortadela e cortava em rodelas muito fininhas, fritando em seguida pra eu comer com arroz. E ela fazia isso contra toda a família que, na verdade, sempre queria me forçar a comer o que eu não gostava.

Minha vó sempre foi a pessoa pra quem eu corria ou gostaria de correr. Se eu apanhava por fazer muita besteira, ela me colocava no colo e me fazia carinho, brigava com meus pais, com meus tios, com meus primos, com quem quer que fosse. Ela nunca me disse que eu sou sua neta preferida, e acredito que não seja mesmo a única preferida, mas eu não me importava, eu não precisava desse tipo de verbalização dela

Lembro do cheiro do bolo que ela fazia, a mão mesmo, mesmo tendo ganhado uma batedeira. Misturava ovos, açúcar e manteiga e batia. Eu amava esse mistura, e ela deixava eu comer rs. Minha mãe não deixava, mas lá estava minha vó distraindo minha mãe pra eu poder enfiar o dedo na bacia pra comer um pouquinho do bolo antes de estar feito. Acho que foi dai que comecei a gostar de bolo! E de bruaca (pra quem não sabe, uma espécia de bolinho frito rs), que só ela sabia fazer do jeito que eu gosto, crocante por fora, crua por dentro, água na boca só de lembrar.

Eu não tive uma infância de riquezas materiais, mas ela não poderia ter sido melhor. Estes são apenas alguns traços de memória, ainda há muito que eu poderia escrever sobre ela, mas essas são peças chaves, quase um efeito carambola lembrar dessas, tão vivas, me faz lembrar das outras tantas que tenho.

Eu tinha dúvidas quanto a qualidade dela (minha infância), mas agora, depois de ter escrito este texto, eu percebo que foi a MELHOR infância que eu poderia ter recebido de presente de Deus. Saudade boa de tudo que vivi, dos cheiros, dos gostos, dos toques... 

Comentários

  1. tbm já me queimei com o ferro, e ao contrário de vc, tenho uma pequena marca no joelho que me faz lembrar de grandes momentos!

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