Aspas: Só pra dizer EU TE AMO

Minha vó tem jeito de sol. Tem jeitinhos de cuidar da gente mesmo depois de grande. Tem olhos delicados e mãos cheias de ternura, prontas pra espalhar sementes de bondade, carinho e gratidão. 

Em cada canto da casa, uma saudade. Um álbum de fotografias com cheiro do tempo, mas cheio de imagens que sorriem sozinhas. Um aniversariante com dedo no bolo. Um ataque de formigas ninjas. O cheirinho de feijão cozido no fogão a lenha. O cafezinho das 3 da tarde. As abelhas zunindo ao pé do ouvido. O vô que chega e descalça os sapatos. A mãe que chega ralhando porque ficou tarde. As pazes com o irmão depois de um dia inteirinho de brigas. A orquestra de grilos. A ave-maria das 6 da tarde. Dona Rosa no portão. O Banzé que repousa num sono eterno. O jardim carregado de primaveras e onze horas. Os primos chegando pra brincar. O bolo saindo do forno.

Em cada canto da casa, um riso.
Em cada riso, uma vontade de eternidade.

Minha avó é mestra na arte de cuidar. Na arte de perdoar também. Coração grandão ela tem, mas que anda fraquejando com a força do tempo.

Vó, deixo aqui minha eterna gratidão. Obrigada pelos dias mais felizes da minha vida. Se eu pudesse escolher, um único dia, pra voltar no tempo, eu escolheria cem vezes, o dia em que você me acolheu em seus braços e me fez cafuné depois de uma surra. Fiquei morando pra sempre ali. Eu, uma menina assustada, no colo da vó.

Vó que faz poesia com a vida. Faz feijão e arroz virar alegria. Faz a infância da gente um lugar bom pra se morar. Faz de todo fardo um aprendizado e das coisinhas miúdas, a coisa mais importante do mundo.

Ela, o tempo todo, me falou de amor. Eu, o tempo inteiro, parei pra ouvir.



Cris Carvalho

p.s.: que texto mais lindo! Obrigada Cris, por escrever isso, mesmo sem fazer idéia de quem sou, e por me fazer dedicar esse texto, desse jeitinho, a minha vó, pessoa tão amada por mim!

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