15 anos: Caio F. Abreu

* não vou pedir desculpas pelo mega post.



       25 de fevereiro de 2011. Impossivel não ser mais uma, dentre tantos mil, que hoje dedica um tempo a mais do que de costume para ler, parafrasear e homenagear #CFA.  Não bastasse ser digno de homenagens eternas por ter sido quem foi (e é), hoje é um dia tido como especial: fazem 15 anos desde que Caio se foi, com seus dragões, avencas, damas da noite e doces sentimentos, intensos e tristes, melancólicos e depressivos, mas sempre intensos e doces.
       Costumeiramente, aniversário da morte de alguém não é algo a ser comemorado, pela falta e ausência que causa tanta dor. Mas falando de CaioF. é uma comemoração. Poucos são aqueles que, depois de partir para outro plano, vida, enfim..., continuam vivos (e tão vivos!) na memória e na vida das pessoas como Caíto, mais uma das formas de se chamar esse mestre da sensibilidade.
        Quando conheci CaioF. estava, assim como ele muitas e repetidas vezes ficou  - e usou disso para escrever a maioria de seus textos, contos, histórias - passando por um momento muito triste e difícil, causado por uma grande desilusão amorosa. Ainda não sabia quem havia escrito aquelas palavras que tanto acalmaram meu coração, mas já sabia que de todas as pessoas, ele (o autor, que pra mim ainda não se chamava Caio) era a que mais me entendia. 
           
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. (...) Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência. Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na lagartixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça. Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa. Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis.

        Nada que li antes ou depois de Caio me fez me sentir tão viva, com vontade de ser feliz, com vontade de me cuidar e acreditar novamente. Depois disso, tive que dar nome a quem me ‘tirou da fossa’ e desde então suas frases penetram nos meus dias. É conveniente dizer que, de verdade e intensamente, Caio faz parte da minha vida a pouco mais de um ano, mas a ligação é maior do que o tempo medido por relógios e calendários. Como costumo dizer, eu não leio Caio F., nós conversamos!
     

      Olhando as várias homenagens via Orkut, MSN, twitter, facebook, encontrei um texto lindíssimo que traduz todo esse saudosismo e agradecimento pelas palavras de CFA, senti-me obrigada a postar, não como se fosse meu (pois foi escrito por Camila Paier), mas por ser tudo o que eu gostaria de dizer.

As homenagens são tantas, e fico aqui em branco, sentada, pensando exatamente em como começar. Existe isso de não haver conhecimento algum, nenhum toque ou olhar, nenhum autógrafo em primeira página, e ainda assim, sentir por inteiro o que em anos passados sentiu? Acredito que sim: pela memória eternizada em livros e escritos, vídeos e fotografias. No patamar de sílabas e emoções, experiência e palco da vida, Caio foi rei. Em externar sentimentos como quem desata todos os nós internos: da delicadeza que ocasionalmente acometia as palavras de Caio, do peito inserido por entre vírgulas e predicados, da força brutal de seus escritos nesse cotidiano já tão defasado de banalidades. Há uma quinzena de anos, Caio se ia. Num piscar de olhos, se foi. (...) Vício imediato. Paixão pelo mistério de em outras épocas, anos antes, alguém sentir o mesmo e colocar para fora da forma mais angelical que encontrou: sublime. Do jeito único de se reencontrar, que era escrever, e encontrar mais uma multidão de admiradores que são sensíveis e nas linhas captam a magia de apanhar todos os pedaços e seguir na vida, inteiriços do feitiço do mago Caio. (...) Amigo íntimo a que não viemos, a maioria, conhecer. Sem apertos de mão, sem nem mesmo a ultrajante cabeça pensante em seus debates filosóficos, suas entrevistas polêmicas, para observar como agora anda esse mundo que vivemos. Igual: o conselheiro a que tantos nos reconhecemos, um ícone.
Hoje, em homenagem a este que tanto admiro, e nem mesmo posso contatar (telepatia, talvez? Profundos pensamentos, para que cheguem talvez ao céu ou ao paraíso, onde com certeza se encontra Caio) tentarei, como em seu aniversário, um dia de paz interna. De chá no meio da tarde, jazz e blues ao pé do ouvido. Cometer uma loucura, pequena que seja, para sentir a vivacidade no sangue. Nomear objetos, pegar a bicicleta e sumir por aí. Entrar dentro de cada um desses personagens que por nós passam, e a sensibilidade despercebemos; o fino traço do rosto, a exatidão dos gestos. Desvendar pessoas. Declarar paixões. E rosas. Como em seu aniversário, uma visita com direito às mais vivas e robustas rosas que encontrar no caminho. Bem cultivadas, duradouras, para colocar ao lado da foto em preto e branco. Tudo pela genialidade desse Caio que nos atinge em cheio, e quase nos pega no colo, em cada reflexão perspicaz. Inspira e traduz almas e afeições. Tenho certeza que Deus já o tem lá em cima, junto aos anjos e a um céu tão azul que o faz o mais feliz dos querubins. Desses que assistem e enviam axé, força e fé a todos nós que sentimos demais e com complexa atenção os dias, na ponta dos dedos. Viva Caio, que deixa cada dia nosso mais doce.

Comentários

  1. Que lindo, adoro caio, ele me encanta em todos os lados, meu preferido *-* Tenha um dia doce linda, lhe seguindo.

    ResponderExcluir
  2. não tem como não encantar *-* obrigada linda, um dia doce pra vc tbm ;**

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigada e volte sempre,
fico feliz com sua vinda ao blog ;)

Postagens mais visitadas