(...)


E foi difícil, no começo, desligar-me do mundo,
escrever e não me preocupar com reações que não pertencem a mim...



Eu me envolvo com personagens.  É, personagens... Tipo o mocinho que sofre pela mocinha da novela das oito, o problemático daquele filme que assisti em uma tarde de domingo que vive sem saber o porquê de algumas coisas acontecerem e outras não, ou até mesmo com aquele que vivia em busca do amor, acreditou ter encontrado, mas pouco antes dos créditos aparecerem numa tela preta ele descobre que só ele se envolveu e que a mulher que amava, ou pensava ter amado e com quem tinha um pseudo-relacionamento-amoroso está mais do que entregue a uma paixão que conheceu num banco de praça, lendo um livro... Ou ainda, me identifico com aquela moça irônica daquele seriado, fria, calculista, que desacreditou das pessoas e do que chamam de amor, como que uma defesa ou maneira de se resguardar ou por estar cansada de sofrer tanto e ter visto a confiança que depositou nas pessoas se esvair de um jeito tão covarde que isso foi demais pra ela.

E eu choro, dou gargalhadas, me vejo nos personagens mais do que em mim mesma. Me vejo nas músicas e nas telas e choro, porque me entrego, por instantes, àquilo que é mais real pra mim do que a própria vida que levo nos olhos. E há quem me chame de sentimental por me emocionar assim, por me entregar a alguém que tem o poder de me transportar para os corpos de vários personagens e vidas que não tive ainda a oportunidade de viver. 

Choro com textos que vejo em blogs, textos que mais falam de mim do que de quem escreveu, desconfio até que quem escreveu me conhece e se dedica fiel e inteiramente a me observar, 24 horas por dia, todos os dias, porque nem eu saberia falar tanto assim de mim... Não é sempre que isso acontece, mas acontece. Eu não sei como isso acontece, mas eu consigo me ver em lugares que nunca acreditei. 

Quando escrevo a maioria dos meus textos, falo de mim, falo de coisas que me tocam, que mexem ou já mexeram tanto comigo que ao passar tudo pra uma folha em branco tornam a remoer tudo por dentro. Engulo borboletas vivas - que não se aquietam dentro de mim - sem perceber. Ouço soluços, mas nem vejo lágrimas caírem. Alguns dos textos não se parecem comigo quando escrevo, só um tempo depois é que fazem sentido. Acho que o tempo se encarrega de ressignificar os sentimentos e me fazer entender exatamente o que eu não queria ou não tinha capacidade de entender logo após das linhas já escritas.

E eu não sei por que, pra que ou para quem escrevo. Não sei quem me inspira e quem transborda pelos meus dedos. Nem sei se é alguém real ou um dos personagens com quem mantenho algum tipo de relacionamento ou aproximação.

Tem tanta coisa vindo à mente agora, de uma maneira tão acelerada que me sinto perdida, com vontade de gritar e enlouquecer. Coisas que nem conseguiria pôr no papel, quem sabe um dia tudo fique mais claro e eu possa expulsar. 

E eu não me importo mais com o que falam ou como me julgam. Eu sou assim. Se houve algo em que nunca mudei, foi nisso. Sempre chorei demais com finais tristes, com percas significativas da trama... Se isso é um defeito, deixa assim. Percebi que me gosto com pecados.. E eu não tenho o costume de sonhar, mas acho que vai ser sempre assim, por mais real que as coisas voltam a ser aqui fora...



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