(...)

Saudade não é ex, tampouco amor. Mas a vida da qual abrimos
mão por um sonho (ou por um erro) é passado.
E de escolhas e de perdas é feita a nossa história. Não há
nada que se possa fazer a não ser carregar por um tempo um
peso sufocante de impotência: eu escolhi que aquele fosse o último abraço.
Agora é outra que se perde em ombros tão largos, tomara que
ela não se perca tanto ao ponto de um dia não enxergar o
quanto aquele abraço é o lado bom da vida.
Da vida que te desemprega mesmo depois de tantas noites em
claro e de tantos beirutes indigestos. Da vida que te abre
uma porta que você jura ser a certa mas quando resolve entrar
descobre duas crianças brincando na sala e uma mulher esperando no quarto.
Da vida que te confunde tanto que você quer se afastar de
tudo para entendê-la de fora. Da vida que te humilha tanto
que você quer se ajoelhar numa igreja. Da vida que te
emociona tanto que você não quer pensar. Da vida que te dá um
tapa na cara pra você acordar e não tem ninguém pra cuidar do
machucado e dizer que vai ficar tudo bem. Da vida que te engana.
Aquele abraço era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu
precisava viver. E que irônico: pra viver eu precisava perdê-lo.

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